sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Sociólogo Renato Ortiz ministra aula inaugural na FAC

Renomado professor revisita temas 
como identidade nacional,
 cultura brasileira e mundialização e conversa
 com alunos da pós-graduação

Os recorrentes e clássicos temas da cultura brasileira e identidade nacional foram revisitados nessa terça-feira, 13, por um de seus maiores especialistas: o sociólogo e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Renato Ortiz. Com diversos livros publicados nesse campo, nos quais aborda as fronteiras, os desafios e as perspectivas que vêm reorientando as sociedades contemporâneas, o pesquisador trouxe para os alunos de pós-gradução da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília a palestra Transformações na identidade brasileira no processo de mundialização da cultura.

De modo simpático e cordial, foi a partir de um “incidente que guarda uma especial exemplaridade” que Renato Ortiz iniciou a sua aula. “Em 1977, ainda professor na Universidade Federal de Minas Gerais, pedi a meus alunos de graduação que lessem Tenda dos Milagres, de Jorge Amado, e ainda assistissem ao filme de Nelson Pereira dos Santos”. Já em 2002, passou o mesmo exercício para estudantes na Unicamp, mas a recepção foi distinta: “Odiaram, acharam uma chatice, para eles não era identidade nacional, mas identidade baiana”, contou. Tal episódio foi mencionado para lançar a seguinte questão: “Como no espaço de vinte e cinco anos o que era nacional passou a ser visto como local, regional?”

NAÇÃO, CULTURA E IDENTIDADE - 

 O professor aproveitou essa ilustração para explanar sobre as noções de “nação” e “modernidade” que vêm sendo desenhadas no país desde o século XIX. “Há um modo de nomear esse debate: o pensamento brasileiro, em que um conjunto de autores consagrados interpretam o Brasil, compreendendo figuras desde Silvio Romero e Gilberto Freyre a Sérgio Buarque de Holanda, Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes”. Renato Ortiz explicou – um a um – os conceitos/categorias que atravessam esse debate: nação, cultura e identidade. “Pergunto-me, porém, se ainda existe um pensamento brasileiro. Na minha opinião, esse pensamento, de modo orgânico e sistematizado, terminou nos anos 1970; o que há hoje são alguns brasileiros que pensam o Brasil, e não mais um pensamento brasileiro”, complementou.

Segundo o sociólogo, nação é um conceito que não existia antes da Revolução Industrial, sendo uma totalidade que requer elementos da cultura nacional e da consciência coletiva para se forjar. “Uma nação é uma sociedade que se imagina comunidade”, complementou. “Tenda dos Milagres, por exemplo, nos remete a uma totalidade maior que é a cultura brasileira, assim como o carnaval do Rio do Janeiro compreende outros elementos de outros Estados, que se confundem com o Brasil como um todo”, explica, acrescentando que “cada uma dessas manifestações mantém em miniatura o conceito de Brasil”.

IDEOLOGIA DO PROGRESSO E GLOBALIZAÇÃO –  

De acordo com Ortiz, alguns paradigmas conceituais estão sendo transformados. É equivocado, segundo ele, compreender cultura, identidade e nação sob a perspectiva da “ideologia do progresso e da linha do tempo”, as quais, segundo ele, vêm se rompendo. “A ideia do progresso, de concepção colonialista e eurocêntrica, vem sendo quebrada, e a noção de identidade – esse feixe de construções simbólicas – está deixando de ser marcada pelo essencialismo, ou seja, não importa mais seu caráter ou essência, mas apenas como vem sendo construída, passando a ser investigada como representação”.

O recorrente conceito da globalização, em geral empregado e compreendido de modo apressado, reducionista e generalizante, também foi abordado pelo professor. “Atestamos há tempos a existência de processos globais que transcendem os grupos, as classes sociais, as nações”, afirmou, acrescentando, porém que “é um fenômeno transnacional, e não internacional, e é tolice acreditar que vivemos em um mundo sem fronteiras. O processo de globalização quebra algumas, mas cria outras”.

MODERNIDADE - 

 “A globalização mostra que é possível ser moderno sem ser nacional”, disse, apontando que o processo de modernização reorganizou as forças políticas, econômicas, bem como as noções de proximidade e distância”. Para ele, o espaço de modernidade/mundo é constituído a partir de um conjunto de referentes utilizados na construção de identidades, não sendo mais o Estado/nação o determinante absoluto da identidade nacional. “Existe a globalização, não a identidade global, pois o mundo global não é uno, é uma soma de pluralidades”, aproveitando para lembrar que, em contextos de crise, os elementos de identidade nacional costumam emergir com mais força, a exemplo dos recentes episódios que ameaçaram a soberania do Paraguai e da Grécia, conforme apontou.

Provocado por uma pergunta que questiona a concepção de cultura por Celso Furtado, Renato Ortiz fez questão de sublinhar que considera sua compreensão “mecânica, pois ainda presa a uma época desenvolvimentista, e reducionista – como no caso de alguns outros economistas – por condicionar e, por vezes, absolutizar os elementos da cultura às forças do mercado”. E de modo contundente, concluiu: “Cultura não é mercadoria simplesmente porque a esfera cultura está indubitavelmente imersa na esfera do simbólico”.
--------------------
Reportagem por  Luciana Barreto - Da Secretaria de Comunicação da UnB
Fonte:  http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=7324 14/11/2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário